Uma fonte de alimentação linear regulada é um sistema eletroeletrônico cuja finalidade é converter energia elétrica de corrente alternada (CA) em corrente contínua (CC) estável, com alta precisão de tensão, baixa ondulação residual (ripple) e resposta dinâmica adequada às variações de carga. Ao contrário das fontes chaveadas, que utilizam conversão de energia por comutação de alta frequência, as fontes lineares empregam transformadores, retificadores e reguladores em série ou shunt, o que lhes confere baixa interferência eletromagnética (EMI) e alta simplicidade conceitual. No entanto, essa simplicidade também implica em menor eficiência e maior dissipação térmica.
O projeto de uma fonte linear exige entendimento das etapas de conversão e filtragem, bem como o dimensionamento dos componentes ativos e passivos. A seguir, detalham-se os principais aspectos matemáticos envolvidos.
Conceitos Fundamentais
Uma fonte de alimentação linear regulada é um sistema eletroeletrônico cuja finalidade é converter energia elétrica de corrente alternada (CA) em corrente contínua (CC) estável, com alta precisão de tensão, baixa ondulação residual (ripple) e resposta dinâmica adequada às variações de carga. Ao contrário das fontes chaveadas, que utilizam conversão de energia por comutação de alta frequência, as fontes lineares empregam transformadores, retificadores e reguladores em série ou shunt, o que lhes confere baixa interferência eletromagnética (EMI) e alta simplicidade conceitual. No entanto, essa simplicidade também implica em menor eficiência e maior dissipação térmica.
Definições Precisas
- Tensão de saída (Vout): valor nominal de tensão CC entregue pela fonte sob condições especificadas de carga.
- Regulação estática: capacidade da fonte de manter Vout constante diante de variações de tensão de entrada (regulação de linha) e de corrente de carga (regulação de carga).
- Ripple: componente alternado residual superposto à tensão contínua, resultante da retificação e filtragem imperfeita.
- Dropout: diferença mínima entre a tensão de entrada e a tensão de saída para que o regulador mantenha a regulação.
- PSRR (Power Supply Rejection Ratio): capacidade do regulador em atenuar flutuações na tensão de entrada, expressa em dB.
- Dissipação térmica: energia convertida em calor pelos elementos reguladores devido à diferença de potencial e à corrente.
Fundamentos Matemáticos e Técnicos
O projeto de uma fonte linear exige entendimento das etapas de conversão e filtragem, bem como o dimensionamento dos componentes ativos e passivos. A seguir, detalham-se os principais aspectos matemáticos envolvidos.
Retificação e Cálculo do Ripple
Após a etapa de transformador, a tensão secundária de CA é retificada por diodos em configuração de ponte completa ou meio ciclo. A forma de onda unidirecional resultante é então suavizada por capacitores de filtro. A corrente de carga descarrega o capacitor entre picos sucessivos, gerando uma variação de tensão (ripple) dada, na aproximação de descarga linear, por:
\( V_{r(pp)} \approx \frac{I_{load}}{f_{r} \, C} \)
- Vr(pp): ripple de pico a pico;
- Iload: corrente de carga;
- fr: frequência de repetição dos picos (igual a duas vezes a frequência da rede em ponte completa);
- C: capacitância de filtragem.
Fisicamente, durante cada intervalo, o capacitor fornece corrente ao circuito de carga, reduzindo sua tensão até o próximo pico de recarga. Para um ripple máximo admissível, define-se C mínimo:
\( C_{\min} = \frac{I_{load}}{f_{r} \, V_{r(pp)}} \)
Regulação em Série
No regulador linear série, um transistor (BJT ou MOSFET) é inserido em série com a carga, controlando a queda de tensão através de um circuito de referência e amplificador de erro. A tensão de saída resulta de:
\( V_{out} = V_{ref} \left(1 + \frac{R_2}{R_1}\right) + I_{adj} \, R_2 \)
onde Vref é a tensão de referência (interna ou externa), R1 e R2 formam divisor de realimentação e Iadj é a corrente de ajuste do ci regulador (tipicamente desprezível se comparada a correntes de carga). A estabilidade dinâmica do laço de realimentação requer rede de compensação (por exemplo, capacitor de compensação entre coletor e base do transistor de erro), dimensionada para garantir margem de ganho e fase adequadas, evitando oscilações.
Perdas e Dimensionamento Térmico
A principal limitação em fontes lineares é a dissipação térmica. A potência dissipada no dispositivo regulador Pd é dada por:
\( P_{d} = (V_{in} - V_{out}) \times I_{out} \)
Essa energia deve ser conduzida para o ambiente sem exceder a temperatura máxima do componente. O cálculo de dissipação térmica envolve a resistência térmica interna (θja ou θjc) e, muitas vezes, um dissipador com resistência térmica θsa:
\( \Delta T = P_{d} \times (\theta_{jc} + \theta_{cs} + \theta_{sa}) \)
onde ΔT é a elevação de temperatura acima da temperatura ambiente. A escolha de dissipador e fluxo de ar deve garantir que ΔT não ultrapasse a margem de segurança do componente.
Implementação Prática
Nesta seção, descreve-se passo a passo o projeto de uma fonte de 12 V CC com corrente até 1 A. A aplicação típica inclui instrumentação e dispositivos analógicos sensíveis a ruídos, requerendo ripple abaixo de 10 mVpp e regulação de carga melhor que 0,5 %.
1. Escolha do Transformador
Determina-se tensão secundária Vsec RMS de modo a garantir, após retificação e carga, tensão DC mínima: considerando queda de diodo (~2 × 0,7 V) e ripple:
\( V_{sec} \approx \frac{V_{out} + V_{diode} + \frac{V_{r(pp)}}{2}}{0.707} \)
Para nosso exemplo: Vout=12 V, Vdiode=1,4 V, Vr(pp)=0,02 V, resulta Vsec≈ 12,5 V RMS. Adota-se transformador 13 V–0 –13 V ou 15 V–0–15 V, 50 VA.
2. Retificador e Filtragem
Utiliza-se ponte de diodos 1 A, tensão reversa mínima de 50 V, e capacitor eletrolítico de filtragem. Com Iload=1 A e fr=100 Hz, para Vr(pp)<0,02 V:
\( C \ge \frac{1\,\text{A}}{100\,\text{Hz} \times 0{,}02\,\text{V}} = 500\,\mu\text{F} \)
Adota-se 1000 µF/35 V para margem, com baixo ESR para reduzir ripple térmico.
3. Regulador Série com TL431 e Transistor de Potência
Para maior flexibilidade, opta-se por regulador discreto: o diodo de referência ajustável TL431 como elemento de referência e amplificador de erro, acionando um transistor PNP de potência (TIP42C). O diagrama de blocos:
- TL431 configurado para Vref=2,495 V;
- Divisor R1–R2 dimensionado para 12 V;
- Transistor em série, dissipador adequado.
O divisor satisfaz:
\( 12\,\text{V} = 2{,}495\,\text{V} \left(1 + \frac{R_2}{R_1}\right) \quad\Longrightarrow\quad \frac{R_2}{R_1} = \frac{12}{2{,}495} - 1 \approx 3{,}81 \)
Escolhem-se R1=2,2 kΩ, R2=8,2 kΩ (valores comerciais). Um capacitor de compensação de 10 nF entre referência e catodo do TL431 garante estabilidade do laço.
4. Proteção e Filtragem Adicional
Para limitar corrente em curto-circuito, inclui-se resistor de sense Rsense de baixo valor em conexão ao TL431, implementando proteção por foldback. Adicionalmente, um filtro RC na saída atenua ruído de alta frequência.
Considerações Gerais
O desempenho global de uma fonte linear regulada depende de múltiplos fatores interdependentes. A estabilidade térmica é crítica: a variação de temperatura interna pode afetar Vref e características de ganho do transistor, alterando a regulação. Da mesma forma, a qualidade dos capacitores de filtragem (ESR e corrente de ripple) impacta diretamente no ripple residual e na resposta dinâmica. Deve-se sempre realizar simulações SPICE para verificar margens de estabilidade em laço fechado e avaliar resposta a transitórios.
Conceitos Avançados
Resposta Transitória e Compensation Network
O laço de realimentação possui dinâmica de segundo ordem, caracterizada por frequência de ganho unitário e margens de ganho/fase. A adição de polos e zeros por redes RC no caminho de feedback ajusta a resposta. Por exemplo, um zero de compensação pode ser inserido via capacitor paralelo a R1, melhorando margem de fase:
- Zero de compensação: fz = 1/(2π R1 Cc);
- Polo de alta frequência: fp = 1/(2π Rt Cc), com Rt impedância de saída do regulador.
Essa técnica evita oscilações e melhora a resposta a variações rápidas de carga.
Regulação Remota (Remote Sensing)
Em aplicações de precisão, a queda de tensão em trilhas ou fios pode degradar a tensão real entregue à carga. O recurso de remote sensing consiste em medir Vout diretamente na carga, retroalimentando o regulador na origem. Assim, o regulador compensa automaticamente a queda de linha, mantendo Vload constante.
Curto-Circuito e Foldback
A proteção por foldback reduz a corrente de saída conforme a tensão de saída decai, limitando a dissipaçã o térmica do regulador em curto-circuitos prolongados. O projeto desse circuito requer dimensionamento de resistores que definem pontos de transição de corrente e tensão de saída mínima.
Tendências e Perspectivas
Embora as fontes lineares sejam clássicas, continuam relevantes em aplicações de alto desempenho analógico, laboratórios e instrumentação. As principais tendências incluem:
- Reguladores LDO de baixo ruído: integração de referências de banda larga e montagens SMD de alta precisão, com PSRR superior a 80 dB até centenas de kHz.
- Híbridos linear-chaveado: fontes com pré-regulagem por chaveamento de baixa frequência, seguida de estágio linear para redução de ripple e EMI.
- Monitoramento digital: incorporação de microcontroladores internos para ajuste dinâmico de tensão, proteção programável e comunicação via I²C ou PMBus.
- Materiais avançados: uso de transistores de silício de alta tensão ou GaN em estágio linear, reduzindo Vdropout e dissipação.
Essas inovações visam combinar a simplicidade e a baixa interferência das fontes lineares com a flexibilidade e eficiência das soluções digitais e chaveadas.
Conclusão
O projeto de fontes de alimentação lineares reguladas exige equilíbrio entre diversos parâmetros: tensão e corrente de saída, ripple, regulação estática e dinâmica, dissipação térmica e complexidade de implementação. A compreensão teórica dos fenômenos de retificação, filtragem e controle em laço fechado, aliada a cálculos rigorosos e simulações, é fundamental para alcançar desempenho confiável. Conceitos avançados como compensation network, remote sensing e foldback enriquecem o projeto, enquanto as tendências atuais apontam para integrações digitais e materiais de nova geração, ampliando o campo de aplicação dessas fontes clássicas no cenário tecnológico contemporâneo.